A importância da proteção dos rios e mares

blue body of water
Foto por Anastasia Taioglou em Unsplash

Marcos Traad, Zootecnista e Superintendente de Controle Ambiental – Secretaria do Meio Ambiente de Curitiba

As águas correm para os rios e os rios correm para o mar…

Esta famosa frase de uma canção nos faz constatar que, mesmo sabendo das consequências, continuamos a despejar toda a espécie de coisas nos rios e mares. Uma boa parte do problema se dá em função das ocupações irregulares, inclusive nas encostas, margens dos rios, fundos de vales e do próprio lixo jogado nas ruas. Assim, ano após ano, nos deparamos com a visão avassaladora de tantos problemas com alagamentos, com vidas perdidas e com a catástrofe que causamos nos oceanos ao redor do mundo.

E o quê podemos fazer em relação a isso?

É preciso caminhar em dois sentidos complementares. De um lado, a sociedade como um todo e, do outro, o poder público. Passemos então a caracterizar o papel de cada um, de forma indissociável, tendo como referencial a experiência exitosa em Curitiba.

Faz muito tempo que a capital do Paraná tem projetos de sensibilização e conscientização ambiental, que evidenciam a necessidade de todos dedicarem atenção ao meio ambiente. Especialmente em relação aos rios, nascentes e etc., inúmeras atividades contínuas de Educação Ambiental têm sido executadas nos últimos 30 anos, inclusive transpondo incertezas políticas que podem existir com a sucessão de prefeitos na cidade. Um bom exemplo é o atual Programa “Amigo dos Rios”, da Secretaria Municipal do Meio Ambiente. Lançado em 2019 de forma integrada com outras pastas do Governo Municipal, aborda públicos diversos, levando informações sobre como podemos ser protagonistas para conservar a qualidade dos nossos mananciais. Muitas são as atividades desenvolvidas, tais como palestras, plantios de mudas de árvores nativas nas margens dos rios com as comunidades, apresentação de peças teatrais educativas, etc. Foram também criados Grupos de Apoio Local (20), por sub Bacia Hidrográfica, para que, pela participação voluntária, seja mais efetiva a organização dos munícipes para todas as atividades. Esta forma de organização também objetiva qualificar agentes multiplicadores, responsáveis pela disseminação do conhecimento, para ampliar a base de cidadãos voltados à preservação e à conservação das águas.

Os números que expressam a abrangência do Programa são muito interessantes. Em três anos de atividade, o “Amigo dos Rios” se concentrou na Bacia Hidrográfica do Belém, rio com sua nascente e foz na cidade de Curitiba. Ao longo deste período, mesmo durante a atual pandemia de Covid19, foram abordadas 176.066 pessoas, inclusive considerando 172 escolas estaduais e municipais. Importa ainda ressaltar que 225 toneladas de resíduos foram retiradas do leito e das margens dos rios que compõem a Bacia.

Do ponto de vista estratégico, o poder público deve ser aplaudido quando executa investimentos em programas desta natureza, inclusive pelo poder de acesso aos cidadãos e a todas as comunidades envolvidas com o dia a dia da cidade. Trata-se de uma poderosa ferramenta inerente ao estado que deve continuar avançando. Ainda que efetivamente também haja a responsabilidade da sociedade para conservar o meio ambiente, é fundamental a indução pelo setor público. Com isso, Curitiba mesmo com todas as dificuldades inerentes à administração de uma grande metrópole, dá um bom exemplo do que deve ser prioridade e assim avança no aperfeiçoamento de ações concretas que vão além do mero discurso político. Importa, para o devido aperfeiçoamento do processo, manter a avaliação permanente da percepção das pessoas sobre as abordagens, bem como os benefícios gerados sobre a qualidade ambiental. Da mesma forma, nós mesmos, como cidadãos, devemos policiar e avaliar o nosso comportamento, para que consigamos assumir que o todo só mudará com as nossas ações individuais pelo coletivo.

Publicado no portal Paraná Empresarial e Brasil Empresarial, em 14/02/2022

Por Marcos Traad

Graduado em Zootecnia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Mestre e Doutor pela Universidade Federal do Paraná. Foi Pesquisador do Instituto Agronômico do Paraná e Professor Titular da PUCPR.

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